quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O Castelo - Dois Mundos Em Conflito

Malef despertou com o sol lhe queimando o rosto. Um sol avermelhado, escaldante, cruel. Nada demais nisto. Ali no vale maldito o sol sempre queimava tudo como uma fogueira ardente. Isto se repetia por centenas e às vezes milhares de anos como uma rotina exasperante. Olhou para a extensão do vale e viu a imagem de sempre. Todo o vale estava tomado por uma massa em movimento de matéria negra, nojenta, disforme. Mais parecia uma colônia de vermes negros que se entrelaçavam sem espaço para se mover em sua danação eterna. Olhou para os obeliscos no alto da montanha rochosa e eles permaneciam inertes, sem ação como sempre estiveram nos últimos mil anos. Ao cada despertar de seus pesadelos para o pesadelo real do vale olhava para eles, ansioso pelos sinais que dalí viriam em algum momento incerto. Pelo Portal que se abriria, ele e sua horda passariam para conquistar e destruir um novo mundo. Rubiak chegou e tirou-o dos devaneios: - Permissão para partir, senhor. Malef olhou para a figura patética a sua frente, sujo, desgrenhado, sórdido e um dos seus melhores agentes. Rubiak pedia licença para passar por uma das aberturas individuais para mais uma missão do “outro lado”. Malef esboçou um sorriso. Veja só que ironia - pensou - seu comandado pedindo licença para fazer a passagem, coisa que a ele próprio não era permitido. Rubiak esperava calmo e impassível que seu superior se manifestasse. Entendeu seu sorriso como um deboche como sempre acontecia nestas ocasiões. Um ódio mortal fermentava dentro dele, queimando por milhares de anos suas entranhas. Um ódio doentio, contido. Uma coisa, no entanto o consolava, sabia que Malef não tinha esta regalia que lhe estava reservada, passar para o “outro lado” em missões de assedio e domínio. Ele era da divisão de infiltração e observação e como outros do seu grupo, detinha esta permissão superior de passar pelas aberturas individuais, dentro da estratégia de conquista do grande comandante da escuridão. Já a Malef, como a outros generais de divisão cabia a tarefa de permanecer com suas hordas e mantê-las sob controle até o momento da invasão. - Pode ir - disse Malef com desdém. Malef viu Rubiak se retirando com uma vênia forçada e pode sentir seu ódio se propagando como onda em seu entorno. Não gostava nem confiava nele, mas sabia da importância do seu trabalho para a causa sombria. Agentes infiltrados como Rubiak serviam como informantes e sabotadores dentro das linhas inimigas favorecendo na hora certa a guerra de conquista. Rubiak partia para fomentar mais ódio em uma alma inquieta que habitava um daqueles mecanismos frágeis e repugnantes que viviam do “outro lado”. Malef sabia que muitos destes agentes fracassavam ao serem seduzidos pelo “outro lado”, traindo desta forma a causa. Algo lhe dizia que Rubiak seria um deles. Ocorreu-lhe que quando não mais precisasse de Rubiak iria rebaixá-lo a um “eskroke”, uma das mais baixas entidades dentro da hierarquia do mundo das sombras.